Monstrinho nos ombros
Atualizado: 9 de nov. de 2021
As vezes eu sinto como se estivesse carregando um monstrinho nos meus ombros. E cada vez que finjo que ele não está ali ou cada vez que o escondo para que ninguém saiba que ele existe, ele cresce mais. Falar sobre ciclos é delicado por aqui. Nem todos os ciclos são encerrados como vemos nos filmes: despedidas nostálgicas, lindas paisagens ao fundo e uma trilha sonora. Infelizmente é doloroso demais, e, no meu caso, necessário. E hoje eu quero tentar tirar este monstrinho dos meus ombros. Há um tempo atrás, como muitos sabem, eu atuava como Terapeuta Ocupacional, profissão que eu tenho tanto respeito e admiração. Estava na contrução da minha carreira na área da neuroped e para quem via de fora era como se tudo estivesse muito bem. Trabalhos em "empresas renomadas" (rs), aquela agenda lotada tão sonhada, atendimentos particulares onde a remuneração era justa e olha só, até meu próprio "espaço terapêutico" eu tive. Mas, na verdade, a sobrecarga dos atendimentos, a dedicação a 2 pós, cursos, planejamentos terapêuticos, e principalmente abuso por parte de uma empresa se tornando em um intenso relacionamento abusivo e deixando traumas independente de eu ter conseguido sair disso, e independente pra onde eu fosse depois. O espaço que por uma grande infelicidade não foi nem de perto o sonho que tinha colocado no papel devido a falta de comprometimento de terceiros. Tudo isso acumulando e somando ao ano pandêmico de 2020: covid e acidente de trabalho. As três últimas coisas sendo gatilhos suficientes para que os traumas que citei viessem chutando a porta. No começo foi o Burnout..."diminuir carga de trabalho e melhorar qualidade de vida" mas como? Se os traumas já estavam enraizados na minha cabeça vindo em forma de ansiedade e depressão? Tudo continuou de forma tão intensa e aversiva. Lembro exatamente do dia em que eu soube que não iria mais atender, pelo menos por um bom tempo, e foi horrível. E depois.. continuou horrível. E permaneceu assim por muito muito tempo. A aversão, o sentimento de culpa, de fracasso, de "eu deveria ter dado conta" gerava (e ainda gera!) muito sofrimento e crises fortes. Lembram dos traumas? Pois é.. eles receberam um nome: TEPT, onde sigo com ele. Decidi então realizar uma transição de carreira (vocês não tem noção do quanto é difícil falar disso assim tão claramente e diretamente). Me mudar definitivamente. E os traumas? ainda seguem aqui. Mas o monstrinho nos meus ombros, por ter expressado desta maneira, não posso afirmar que foi embora... Mas com certeza diminuiu.
