A insônia e o Texto que me fizeram criar um site.
Atualizado: 9 de nov. de 2021
E lá vamos nós, mais uma noite com a sua companhia, insônia.
Até vou fazer um chá pra gente.
Senta aqui, vamos nos entender.
Estava eu deitada, com skincare noturno, medicação em dia, ritual para dormir, bem confortável na minha cama, lendo um livro pra relaxar. Eis que recebi uma curtida no Instagram, e peguei o celular para ver, resolvi dar uma olhada nos stories, e lá estava ela: uma publicação sobre um assunto da minha antiga profissão, relacionada diretamente ao meu antigo trabalho. Que merda!
Eu já havia feito uma limpa consciente no meu Instagram, justamente para não me deparar com essas coisas, principalmente nesses momentos. Mas deixei passar essa, só uma publicação. Era só um título, só. Por que eu cliquei? Por que eu resolvi ler a legenda da publicação? Era um tema que eu trabalhava diretamente, atuando, coordenando, treinando. Me chamou a atenção ver aquilo. Mas eu não deveria ter clicado.
Não estou preparada ainda pra lidar com essa mudança de carreira de forma natural. É difícil pra mim. Normalmente eu nem falo isso em voz alta: mudança de carreira. Escutar de outras pessoas ainda me soa muito estranho.
E o que torna mais difícil foi que não foi um processo natural e tranquilo. Uma escolha planejada e organizada. Não era como se eu não fosse boa no que eu fazia, eu era. Não era como se eu sempre odiei o que eu fazia, não odiava, muito pelo contrário. Eu estava esgotava mentalmente e fisicamente, crises de ansiedade/ pânico, depressão, dores horríveis nas minhas pernas e enxaquecas fortes, eu fui me definhando aos poucos, fui levando porrada, fui cruzando caminho com pessoas que eu preferia não ter cruzado, fui empurrando muito sentimento pra debaixo do tapete, afinal, eu tinha que ser forte, eu lidava com famílias e crianças que precisavam de mim, do meu melhor, e eu dei o meu melhor por tanto tempo, que eu não percebia, ou não queria perceber, que eu estava cada vez mais sufocada e sugada, que eu não dei o meu melhor pra mim mesma. E quando eu olhei pra tudo isso, eu sentia tanto cansaço, mas não queria desistir, foram 5 anos de faculdade, eu estava cursando 2 pós graduações, fazendo planos pra entrar no mestrado, fora outros tantos cursos. Em pouco tempo eu tinha conhecimento, tinha experiencia, fazia meu trabalho muito bem feito, tinha resultados. Mas não percebi que tudo isso estava me custando muito, me custando a minha vida. E eu tentei de verdade, reduzir carga horária, procurar minha rede de apoio, mudar de ambiente. E só me deparei mesmo que não dava mais quando eu não conseguia mais ir até o trabalho porque isso me dava crises horríveis. Não consegui mais ouvir sobre o trabalho, não conseguia parar de pensar no trabalho.
Abrir mão disso, eu digo com certeza, que foi uma das coisas mais difíceis que passei. Eu estava alcançando tudo o que eu tinha planejado pra mim. E eu não posso nem dizer que eu larguei porque não estava feliz. Porque “não estar feliz” parece muito melhor do que a situação que eu cheguei.
E por que eu cheguei na situação que eu cheguei? Bom... me sujeitar a aceitar valores contrários dos meus, ambiente de trabalho nada saudável, competição desnecessária, sobrecarga de trabalho, minha autocobrança em ter que fazer tudo bem feito, minha má sorte em algumas situações, são apenas alguns exemplos que posso citar.
Eu tenho tentado, sabe? Gosto muito do que estou construindo na minha marca de acessórios, gosto da leveza, da parte criativa, da liberdade, da autonomia. E eu realmente não queria sempre me sentir tão pesada e tão culpada sempre. Tem dias que são tranquilos, tem dias que eu não quero lidar com o que eu sinto, e tem dias que eu me deparo com um post e tudo desmorona e na minha cabeça vem: fraca, ingrata, louca.
Não está confortável pra mim agora. Não é como se estivesse tudo perfeito e tudo dando super certo na minha “nova profissão” como muitas vezes pode parecer nas redes sociais. Além de toda a dificuldade que o empreendedorismo tem, que mudança de área tem, que verba reduzida (lê-se zero) traz, eu lido comigo mesma e com meus traumas, dia após dia.